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Editorial

No dia 25 de Julho de 1665, os primeiros casos da peste negra foram registradas em Cambridge, na Inglaterra. Entre os que fugiram estava Isaac Newton, na época com 23 anos. Depois da jornada de 100 quilômetros à fazenda da sua família, Newton passou o próximo ano quase completamente a sós – em quarentena, por dizer. Durante esse tempo, ele desenvolveu o cálculo, criou a ciência dos movimentos, fez descobertas inéditas sobre a gravidade, e muito mais.

Quando nos comparamos – nós, vivendo durante a epidemia de COVID-19 – ao Isaac Newton, físico renomado, uma pergunta se torna inevitável. Newton inventou um novo campo da matemática e deixou uma marca inevitável no campo da física durante a sua quarentena… e o que é que você está fazendo agora? Já se tornou mestre na produção de doces e confeitos? Esta fazenda exercício diariamente? Terminou a aquarela com a qual se ocupou nas últimas duas semanas? Já terminou aquele livro que estava escrevendo?

Não se preocupe. Se você respondeu não a uma das perguntas acima, isso não significa que você está vivendo a quarentena de modo errado. Famosos, os chamados influencers, e até amigos e parentes podem estabelecer uma norma de ter de fazer algo durante a quarentena. Algo novo e interessante. Algo que mudará o nosso ser ou que se tornará o nosso novo hobby. Se você não estiver se sentindo tão eficiente como antes, não se preocupe! Não há nada de normal sobre essa crise em que estamos vivendo, portanto tentar manter-se igual a antes da COVID-19, ou tentar melhorar, simplesmente não é justo. 

Também é importante aceitar que fazer estas perguntas sugere algo mais. Sejamos honestos: é um privilégio poder tentar novas coisas, seja pelo tempo a mais que temos ou pelos recursos. Esta epidemia não te obriga a se tornar um incrível cozinheiro. Todos estamos em circunstâncias diferentes e temos interesses variados.

Isso não é para dizer que você não deve aprender algo de novo, pois esse aprendizado é valioso. Porém, devemos mudar nossas expectativas e nossas sensibilidades. Talvez essa epidemia signifique que podemos passar mais tempo com nosso parentes, cuidando de outros, ou ajudando nos cuidados da casa. Talvez signifique ajudar a sua comunidade a lutar contra o COVID-19, dormir ou comer mais, o simplesmente refletir. Ou, talvez, signifique trabalhar para sustentar a sua família ou batalhar a epidemia.

A questão é, essa epidemia é diferente para cada um de nós, mas isso é normal. Alguns têm a capacidade de comprar e receber coisas em um instante, enquanto outros nem sequer conseguem bancar suas necessidades básicas. É essencial estar ciente de como nossas diferenças impactam as nossas vidas nestas horas de dificuldade. Em vez de perguntar que novidades outros trazem, é melhor perguntar ‘tudo bem?’ ou ‘como você está?’ Provavelmente, o objetivo de tais perguntas é simplesmente prolongar ou iniciar a conversa, portanto, deveríamos abordar os outros – a as milhares de situações nas quais eles se encontram – de uma maneira mais inclusiva.

 

Esse artigo representa a perspectiva do The Phillipian, vol. CXLIII.

 

Traduzido por: Theo Faugeres